quinta-feira, 3 de julho de 2008

NA ERA DIGITAL, PROFESSORES COMPETEM COM A INTERNET

Desafios

"Em entrevista a O LIBERAL (04/09/2007), na cidade de Belém, Içami Tiba falou sobre a educação na 'Era Digital', a relação entre pais e filhos numa sociedade às pressas e sobre as conseqüências do problemático ensino brasileiro:

[...]

Com tantos outros recursos audiovisuais e tantas fontes de informação mais dinâmicas, como manter a disciplina e assegurar a atenção de alunos dentro de uma sala de aula?
Os professores insistem em manter uma disciplina na posição vertical, de cima para baixo, mas os jovens vivem, hoje, com tudo ao alcance da ponta dos dedos. São dois contextos diferentes: quando uma pessoa quer aprender, fica sossegada; mas quando não quer, ou a matéria não é interessante para o aluno, ou ele não tem disposição para aprender nada e é indisciplinado. Se o professor achar que é a fonte única de informações, está perdido. É necessário somar o que interessa aos jovens e mudar de posição. Ele não é obrigado a saber mais que o aluno, mas precisa ter habilidade para gerenciar o conhecimento. O professor atual deve compartilhar a liderança, na autoridade do ensinante, e o aprendiz também passa a ser o que ensina. No fundo, o educador nunca vai perder a liderança, mas pode emprestar o microfone para o aluno.


Qual o papel da chamada 'Era Digital' na educação, enquanto norteadora das atitudes dos jovens?
Como a educação não mudou e se adaptou, está perdida. A saída é enfiar computadores nas classes, e não simplesmente aumentar salários. Hoje, há três tipos de analfabetos: os que não sabem ler e escrever, os que sabem mas não conseguem compreender as idéias, e os analfabetos digitais. Se não dá para colocar um computador para cada aluno, que coloque quantos forem possíveis, mas é preciso acompanhar o processo.


E no caso dos pais, devem auxiliar a educação escolar até que ponto? E como cobrar a plena participação deles numa sociedade onde o tempo é cada vez mais escasso?
Os pais estão sendo exigidos no lugar errado. A cidadania familiar é a parte da educação em que os pais precisam evoluir e atualizar seu papel, para não ficar na concepção do pai de antigamente, aquele 'macho alfa', de voz grossa e paciência curta. É necessário trocar idéias com o filho. Assim como a dos professores, precisa haver outra liderança compartilhada, só que em casa. Atualmente, os pais querem ganhar mais para dar mais para os filhos. Mas será que eles precisam de tanto? Se ele quer um celular porque um amigo tem, os pais precisarem dar? Não é melhor dar quando o filho realmente precise, ou para quando o pai quiser falar com o filho? É preciso acompanhar a vida dos filhos. Caso não dê para falar, ligue na hora do café, acesse o orkut ou o blog do filho. Muito do que os pais querem saber sobre os filhos, às vezes, já é de conhecimento de muita gente.


Quais os principais erros dos pais na formação dos filhos adolescentes?
Os adolescentes estão muito distantes dos pais. Não adianta falar em letra de forma se o filho está no teclado. É natural que os filhos absorvam as novidades do mundo. Uma pena é que os pais só se atualizem quando precisam profissionalmente. Quem não colocar a educação como prioridade em casa não tem direito de reclamar. Chefe de família precisa ter liderança e atitude, não pode ficar reclamando dos problemas o tempo todo. Hoje, há tantos meios de informação sobre essas questões.


Segundo a célebre frase de Paulo Freire, 'educação é um ato político'. O senhor concorda?
Tamanho é um ato político que o maior prejuízo da educação é um ato político. No mundo, não existe um lugar como o Brasil, em que um aluno não estuda durante quatro anos e recebe um diploma no final. Os alunos rendem cada vez menos e acham que são espertos. Colocam de lado e acham até perda de tempo quem estuda 12 horas por dia.


Brasil é um país conhecido pelos baixos investimentos em educação. Quais as conseqüências práticas disso para a sociedade brasileira?
É um prédio alto sem alicerce. Esse é, inclusive, um dos motivos que me fez sair do rumo acadêmico. Recebia pessoas na pós-graduação que mal sabiam escrever, não dominavam nem a própria língua. Hoje, você vai a uma universidade e vê as condições em que um brasileiro estuda. Nos Estados Unidos, que possuem mais da metade das universidades do mundo, o ensino superior está repleto de estrangeiros, muitos deles brasileiros. Ou seja, ocorre um êxodo da inteligência. Para que se formem e tenham respeito no país, precisam estudar fora."

Fonte: http://www.tiba.com.br

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